quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

MUSEU DO CHAPÉU













O MUNDO MÁGICO OS CHAPÉUS।


Escrito por Andreia Barros Ferreira
25-Jun-2009
Nasceu fábrica em 1914 e agora é um dos mais interessantes museus nacionais. O Museu da Chapelaria preserva as máquinas que existiam na unidade fabril, continua a ter muitos chapéus em exposição e até uma loja onde se pode comprá-los ou restaurar antigos. A mais-valia, no entanto, é conseguida quando começam as visitas guiadas, que, em conjugação com o serviço educativo, são feitas por dois ex-operários da unidade fabril. Histórias vividas e contadas na primeira pessoa por terras de São João da Madeira.


Uma estrada de alcatrão, o centro de uma cidade do século XXI, carros que passam incessantemente, pessoas apressadas. Tudo isto fora das portas do Museu da Chapelaria, em São João da Madeira, porque lá dentro o tempo é outro.

Estávamos no início da I Guerra Mundial, em 1914, quando São João da Madeira ganhava a sua primeira e mais importante chapelaria, aquela que contribuiria, em grande medida, para a formação da identidade dos habitantes da cidade como chapeleiros. Instalada no centro, a fábrica rapidamente alcançou o sucesso, porque se vivia numa época em que ninguém saía à rua sem chapéu. A projecção fez-se primeiro a nível nacional, depois a nível internacional, com a Fábrica de Chapéus de São João da Madeira a ser responsável pelo fabrico dos chapéus Dallas (da famosa série norte-americana com o mesmo nome) e pelos chapéus da polícia feminina inglesa. Por essa altura, a fábrica vivia uma época de prosperidade, que, no entanto, não durou para sempre.

1974, 25 de Abril. As tropas portuguesas saem à rua com cravos nos canos das espingardas, há uma espécie de revolução mais ou menos pacífica, que dita o fim da ditadura de Oliveira Salazar e instaura a democracia.

Nas ruas os comportamentos alteram-se. A distinção social já não é tão bem-vinda, e os chapéus, associados de alguma forma a ela e ao Estado Novo, começam a cair em desuso. Os famosos bengaleiros, locais privilegiados para o repouso dos chapéus e das bengalas que os cavalheiros distintos usavam ,pouco a pouco vão desaparecendo dos teatros, cafés e outros locais sociais.


Em São João da Madeira, a fábrica vai resistindo. A quebra da produção só se vai sentir muito mais tarde, até que em 1996 as portas são encerradas. "Quando a fábrica fecha, as pessoas percebem que há lá todo um património que é necessário preservar. E começa a nascer um movimento, percebido e vivido também pelo poder político, que se preocupa em salvaguardar todo o espólio", conta Suzana Menezes, directora do agora Museu da Chapelaria. O movimento, ajudado por um projecto de duas turmas do ensino secundário que se propõem lançar as bases para a criação de um museu regional, faz com que em 2005, depois de 10 anos de investigação, seja inaugurado o Museu da Chapelaria nas antigas instalações da fábrica.

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Os rostos e as histórias

"Este é essencialmente um Museu do Trabalho, mais do que um Museu do Chapéu. E ligado a toda essa memória está muita dor e sofrimento, mas também muitas alegrias, muitos homens e mulheres que cresceram aqui", afirma Suzana Menezes.

Méssio Trindade, 82 anos, brilho de menino nos olhos e chapéu na cabeça é um desses homens de que fala a directora do museu. Entrou para a fábrica levado pelas mãos do seu pai com apenas 10 anos, e por lá ficou até as portas se terem encerrado.

Hoje é um dos rostos do Museu da Chapelaria. Para além de logo à entrada existir uma grande fotografia sua a preto e branco tirada no dia em que teve de se despedir do seu local de trabalho, é ele um dos dois guias ex-operários do museu. "Essa é a mais-valia das nossas visitas comentadas: é termos a certeza absoluta de que quem está à nossa frente não está a falar de cor, mas daquilo que viveu, aprendeu e que o fez homem ou mulher", explica Suzana Menezes. Nota-se isso mesmo no entusiasmo com que Méssio Trindade - Sr. Méssio para as pessoas do museu – vai explicando como se faziam os chapéus na antiga fábrica. Máquina a máquina, tal como existiam na altura, já que se tentou reconstruir a funidade fabril tal qual como ela era.




A visita começa na sala onde se misturavam as diferentes partes do pêlo de coelho. Depois de misturado era limpo e ia começando a ganhar forma, especialmente quando chegava a um tanque de água a ferver com produtos químicos. "Esta parte dos químicos era muito dolorosa porque os operários trabalhavam com as mãos, sem luvas", conta Méssio Trindade. Seguia-se a parte em que eram tingidos, dando-se a cor que se pretendia.

Subindo umas escadas de madeira, encontra-se aquela que era a sala dos acabamentos. "Com as máquinas desta secção fazíamos todas as formas que existem no mundo", defende Méssio Trindade. É lá que está a sua máquina, da qual ele se despedia todos os dias, e por quem ainda tem um carinho especial. No terceiro e último piso ficava a secção dos Dedos Mágicos, que fazia os acabamentos finais, como a colocação do forro interior ou da fita que adornava o chapéu por fora. De lá, a visita prossegue até à sala de exposições temporárias, onde se podem apreciar os chapéus já prontos, e onde, quem sabe, poderá experimentar um ou outro e ficar com vontade de pegar no chapéu do avô que ainda existe lá em casa e começar a sair à rua com ele. Se não for isso, ficará pelo menos com a sensação de que este é um dos melhores museus do país, um museu vivo, feito de pessoas com muitas histórias para contar. "Gosto de dizer que se pode encontrar aqui um mundo muito mágico. As máquinas por si só não existiriam e não teriam a importância que têm se não tivessem existido estas pessoas", remata Suzana Menezes.

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Loja de chapéus

Para além das visitas, o museu conta com uma loja de chapéus, onde ainda se fazem acabamentos (a D. Deolinda, para além das visitas comentadas, continua a aplicar os forros e as fitas, como fazia no tempo em que a fábrica funcionava), restauro de chapéus antigos, chapéus novos e por encomenda.

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[Fotos: Marilyn Marques]

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ATELIER RECANTO DA SEREIA

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ITAPOÁ, SC, Brazil
EM POUCAS PALAVRAS POSSO DIZER O QUE SOU: TENHO MUITA FÉ EM DEUS, SOU PROFESSORA APOSENTADA, TENHO 3 CURSOS UNIVERSITÁRIOS, UMA PÓS E ATUALMENTE SOU ARTESÃ E EXPERT EM CHAPÉUS, MEU ATUAL HOBBY, ALÉM DE OUTROS QUE TENHO. SOU AMIGA, AMOROSA, COMPANHEIRA, EXÓTICA, ALEGRE, FELIZ MESMO COM MUITOS DEFEITOS QUE SEM OS QUAIS NÃO SERIA UM SER HUMANO.